CrossFit é uma modalidade de fortalecimento e condicionamento físico que pode ser praticada como forma de exercício físico ou até mesmo como esporte de competição. A própria modalidade se descreve como sendo “exercícios funcionais de alta intensidade e constantemente variados”, e por esse motivo há a necessidade de alguns pontos de atenção aos quais falarei mais à frente.
O esporte começou a ganhar popularidade a partir do lançamento da Crossfit.com, em 2001 e desde então tem se espalhado de forma intensa pelo mundo e como não poderia deixar de ser, também pelo Brasil. Em 2012 a modalidade fixou sua bandeira na ilha de Santa Catarina através da CrossFit Floripa, pioneira no sul do Brasil e que hoje é referência e conta com mais de 600 praticantes em 3 unidades, tendo no último Open 2018 (Competição aberta ao público do mundo todo) o número de 150 inscritos.
O CrossFit possui uma gama imensa de exercícios que são distribuídos no WOD (workout of the day) e tem como pilares três modalidades de exercícios, os quais possuem características distintas em seu treinamento e execução.
Exercícios de Ginástica: utiliza-se do peso corporal para executar movimentos no solo, barra fixa, argolas e movimentos de pliometria (Saltos).
Exercícios de Levantamento de Peso: que tem como base os exercícios de weighlifting, powerlifting e suas variações.
Exercícios Cardiorrespiratórios: que utilizam os simuladores de remo e bike, além da corrida e saltos com a corda.
Com toda essa intensidade e variação de exercícios surge a pergunta: CrossFit Machuca?
Não é incomum ouvirmos ou lermos a opinião de várias pessoas e infelizmente até de profissionais da saúde (Médicos, Educadores e Preparadores Físicos e Fisioterapeutas) dizendo que o CrossFit é uma atividade física “lesiva”. Ao ver pela primeira vez um WOD, pode-se ter a impressão de que o corpo está sendo levado além dos limites, e que isso ira acarretar em uma inevitável lesão.
Mas primeiramente vamos ver o que diz a ciência sobre isso.
Moran e colaboradores 2016 desenvolveram um estudo prospectivo com o intuito de identificar a incidência das principais lesões e sua localização. Encontraram uma incidência de 2.10 lesões a cada 1000 horas de treino. Essa incidência é baixa e se equivale a atividades como corrida, triathlon, levantamento de peso, ginástica e levantamento de peso olímpico – LPO. Quando os autores compararam com outros esportes amadores como futebol, basquete, hockey e Rugby, perceberam uma incidência muito maior nesses esportes, chegando a 7.6 lesões a cada 1000 horas de treino (ou ainda 16.9/1000 horas de atletas profissionais de futebol durante os jogos). Quanto a localização, encontraram que a região lombar foi a mais afetada e que o tempo máximo de afastamento das atividades ficou entre 15 e 24 dias.
Outros estudos como o de Mehrab et al 2017, identificaram o ombro como sendo a região mais afetada, seguido da região lombar e que o curto tempo de prática de CrossFit (menor que 6 meses) foi um fator de risco para incidência de lesões. Além disso uma revisão sistemática de 2017 de Meyer e colaboradores identificou que as lesões prévias à prática do CrossFit, se apresentavam como um importante fator de risco para lesões. Porém a mesma revisão concluiu que a prática de CrossFit, assim como outras modalidades de treinamento de alta intensidade, apresentavam excelentes índices de melhora de VO2 max (capacidade cardiorrespiratória), força, massa muscular, resistência e composição corporal, além de ser uma excelente forma de adultos saudáveis manterem uma rotina de treinamento.
Em mais um estudo de 2016, agora em uma realidade mais próxima da nossa, o Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Sta. Casa de São Paulo, concluiu que a incidência de lesões no CrossFit em praticantes brasileiros é a metade da encontrada no esporte mais popular do país, o futebol.
Com isso, podemos levantar alguns pontos de atenção. Os primeiros 6 meses da nova atividade devem ser focados na técnica e na melhora das valências físicas de mobilidade, flexibilidade e força. Lesões prévias devem ser tratadas antes de iniciar um treinamento mais intenso. A maioria das lesões são de sobrecarga, ou seja, as articulações levadas a um estresse repetido, onde um repouso (não somente o day-off, mas também durante as séries do WOD) poderia ser suficiente para a prevenção das lesões. E os segmentos mais acometidos são os ombros, região lombar e joelhos, necessitando de uma atenção especial para essas regiões (abordarei esses assuntos em artigos futuros).
Em suma a resposta para a pergunta que intitula esse artigo seria:
CrossFit Machuca?
Não. Apenas há um risco inerente à atividade física que deve ser administrado através do bom senso e da orientação de um bom treinador (Coach para os íntimos).
Sim. Há grandes chances que durante a prática do CrossFit, o seu Ego seja constantemente ferido. Mas este é assunto para outro profissional.
Dr. Ricardo Lima Burigo – Crefito 74788-F
Fisioterapeuta Especialista em Fisioterapia Esportiva – SONAFE
Fisioterapeuta do Avaí F.C. desde 2006
Mestrando em Fisioterapia – UNICID – SP