By Coach Jonas
Lembro-me como se fosse ontem, a minha primeira vez… Não foi uma boa experiência, mas foi inesquecível! Fui apresentado à modalidade em 2009 e simplesmente mudou a minha vida.
Eu trabalhava há cinco anos em uma das maiores academias da Nova Zelândia como personal trainer. Tinha uma clientela fiel, meus treinos eram realizados a grande maioria em máquinas, sendo a musculação a base da prescrição dos meus treinos.
Com o tempo as opções de treino na musculação ficam escassas, e a cada aula fica mais difícil de entregar algo novo, além da motivação do cliente ir diminuindo. Identificado esse perigo na minha profissão, resolvi inovar, criando uma metodologia de treino, na qual chamaria “Be ready” (estar pronto). A ideia era deixar os meus alunos aptos a todas as valências físicas, nessa metodologia eu iria trabalhar em blocos de 3 meses onde o foco era uma determinada capacidade física, como; força, cardio, resistência, agilidade, etc. Assim eu teria uma diversidade de treinos e deixaria meus clientes motivados.
Nessa mesma época, um amigo e também personal trainer chamado Rob, me deu um texto com o cabeçalho escrito CrossFit, cujo o título era “What is fitness? ” (O que é fitness), escrito pelo coach Greg Glassman. Esse texto despertou meu interesse, pois nele estava escrito exatamente o que eu estava começando a idealizar, mas com muito embasamento cientifico. Então, Rob me convidou a fazer um curso chamado CrossFit, em Sydney/Austrália. O curso era de um final de semana, e custava $1000 mais despesas de passagem, hospedagem e translado. Não estava organizado financeiramente para aquele investimento, achei caro e neguei o convite.
O Rob era o personal trainer mais renomado e com a maior clientela da academia. A minha meta profissional era ser tão bom quanto ele, visto isso, refleti em relação ao curso e pensei que, se ele estava indo para uma nova capacitação eu deveria fazer o mesmo. Naquele dia juntei meus trocados, parcelei o restante e comprei o curso desse tal de CrossFit.
O local do curso era um box de CrossFit. Eu nunca tinha visto um espaço daquele tipo, lembrava uma garagem, curti o ambiente. O curso foi ótimo, pela manhã foi explicado uma gama de exercícios e seus benefícios. Tivemos uma pausa para almoço e voltamos mais cedo ao Box, quando chegamos os palestrantes do curso e staffs estavam treinando, fazendo overhead squats pesado e barras. No final do treino, o palestrante principal estava com as mãos abertas e sangrando, eu olhei aquilo e achei insano, por que o cara treinar até abrir a mão?! Para minha surpresa, 15min depois, ele estava sorrindo e iniciando a segunda parte do curso, sem ter descansado, comido ou realizado um curativo nas mãos. Ele apenas trocou a camiseta e bebeu água. Eu achei aquilo foda! Aquele cara era tipo um super-homem.
No final do dia todos os participantes iriam fazer um treino (WOD) chamado FRAN! O treino consistia em três séries de 21-15-9 repetições de thruster e barra para ser executado o mais rápido possível. Bom, eu vi aquele treino e não achei nada de especial, nunca tinha feito um thruster na vida, mais pratiquei o movimento durante o curso e me sentia capaz de fazer, o peso era de apenas 42,5kg, leve para mim que treinava pernas na academia com mais de 100kg no leg press. Em relação à barra, estava acostumado a fazer no meu treino de costas e bíceps, então o que poderia dar errado?!
Eles dividiram o grupo em duas baterias, eu fui na primeira. Estava confiante que iria dar um show. 3,2,1…. Começou, fiz a primeira série direto (unbroken) de thruster, fui para barra e fiz 10 barras restritas, os meus braços começaram a ficar mole. Terminei a série de 21 barras e inicie a série de 15 thrusters, fiz 5 e larguei, não conseguia respirar direito, eu puxava o ar e nunca era o suficiente. Toda hora que eu largava a barra vinha um treinador e gritava para eu continuar, eu terminei a série. Fui para a barra e não conseguia mais fazer, o treinador pedia para me esforçar, mas não tinha mais energia, olhava para ele com os olhos esbugalhados e balançava a cabeça tentando dizer que não dava. Eles me trouxeram uma caixa, para subir e fazer barra saltando. A princípio eu achei que iria ficar fácil, engano meu, depois da sétima repetição comecei a sentir falta de ar e garganta seca. Terminei a série de 15. Última série, de 9 thursters. Minha audição ficou confusa, já não distinguia o que eram pessoas gritando ou a música do Box. Não conseguia agachar, minhas pernas queimavam. Toda a vez que eu largava a barra vinha os treinadores, não apenas um mais dois deles em cima gritando para eu não parar. Terminei essa parte e fui para a parte final de nove barras, a cada repetição eu tinha vontade de chorar, parecia que eu estava em um filme de treinamento militar. Queria apenas que aquelas pessoas fossem embora para poder respirar, pareciam cachorros famintos querendo me morder, eu olhava a boca deles mexendo e não conseguia entender mais nada. Terminei a última repetição, aqueles cães bravos viraram meus melhores amigos, sorrindo e me cumprimentando, as pessoas ao redor batendo palmas e eu queria apenas um canto para me jogar.
Fiquei deitado com as costas na parede, em cima dos wall balls, pálido olhando para o além. Comecei a suar frio e uma taquicardia absurda, minha visão foi ofuscando e perdendo nitidez. Fiquei nessa situação durante toda a bateria seguinte de treino, e vi outras pessoas terminando na mesma situação que a minha. Passado uns 15 minutos consegui me levantar, os staffs estavam organizando um churrasco de confraternização com carne e bebidas. As pessoas vinham falar comigo e eu ainda estava com um zumbido no ouvido, não conseguia entender nem falar em inglês. Meu cérebro tinha queimado. Ver as pessoas comendo me dava náusea e ânsia de vomito. Eu sabia que precisava de açúcar para melhorar e sair daquela situação de morto-vivo, peguei uma coca-cola e fui tomando aos poucos. Quando terminei o refrigerante, já me sentia melhor, corri direto para o hotel. Chegando ao apartamento fui direto ao banheiro vomitar o refrigerante. Algumas horas depois meu corpo foi normalizando e consegui jantar.
Pensei que se tivesse um treino igual no próximo dia de curso não teria condições de retornar para casa. Por um momento pensei em desistir, mas mudei de ideia. No segundo dia teve um WOD também, mais nada comparado ao FRAN do dia anterior.
No caminho de volta para a Nova Zelândia, refleti sobre toda a experiência vivida:
O aprendizado, os treinos, a intensidade e a camaradagem do grupo. Nessa reflexão tive a melhor ideia da minha vida! Tinha vivido algo que eu realmente gostava e poderia ser um bom negócio na minha cidade natal, Florianópolis. Eu iria abrir um box de CrossFit, e se chamaria CrossFit Floripa.
Da idealização até a concretização do projeto, foram três anos de trabalho. Abri o primeiro box de CrossFit do sul do Brasil em 2012, na época era o décimo sétimo, hoje contamos com mais de 1023 boxes afiliados no país.
Tenha visão! Você só irá chegar a algum lugar se souber o que deseja. Ter um plano ou perspectiva é essencial para a caminhada. Não importa os tropeços ou quanto tempo leve, a meta é conquistar o seu espaço.